A História de Frosne Vildmark

Windsor Castle

Esta história se passou há muito, muito tempo, numa terra fria chamada Frosne Vildmark. São memórias dos dias antigos que antecederam a chegada dos cavaleiros da sagrada ordem de St. Cuthbert.

Naqueles tempos, os bárbaros do clã Maegyr eram batizados nas intempéries do solstício de inverno, que marcava o início do ritual de passagem, onde os infantes deixavam a segurança de seus lares e partiam na difícil jornada em busca de Ser. A maioria dos jovens morria antes mesmo de sair de casa, o frio do inverno não era pra qualquer um.

No entanto, a frieza e a palidez de nossos tempos eram bons, diziam os sábios, para mortificar a carne. O nosso sofrimento no inverno era uma oferenda aos antigos deuses que nos protegiam, mas que hoje foram esquecidos.

Em nossa tribo, um homem só era considerado aquilo que ele é por “aquilo que ele fez.” Tornar-se alguém de respeito exigia esforço próprio e muita bravura – a rigidez e flexibilidade eram medidas nas temperaturas abaixo de zero. A iniciação significava compreender seus limites e respeitá-los, expandir suas fronteiras e chegar em algum lugar.

Mas nem só de sofrimento se vive a vida, não é mesmo? Quando o inverno chegava ao fim e a neve derretia revelando riachos e córregos, as gramíneas verdejantes ressurgiam em nossos campos ao mesmo tempo que os bosques, antes secos e desfolhados, se voltavam ao deslumbre da primavera.

O Nascer do Sol era aguardado pela expectativa constante no horizonte – toda tribo se reunia ao redor dos Pilares do Mundo, onde os druidas faziam as oferendas de agradecimento aos novos tempos. Enquanto isso, aos poucos, os infantes, sobreviventes do inverno, eram acolhidos na celebração pagã como sementes de uma nova geração.

O Castelo Windsor era a morada do Rei Brochvael. E lá eram recebidas as doze famílias do nosso reino, são elas: Yorks, Mercadores da Moeda; Caledones, Os Jangadeiros da Escolta; Skalps, Os Caçadores de Alce; Skelders, Os Roedores de Esquilos; Kenders, O Texugo Arruaceiro; Jargans, Os Cozinheiros de Javali, Snow, Perscrutadores da Neve; Scotters, Os Escoteiros da Floresta;  Severn, Lanças do Inverno; Volkadan, Os Últimos Guerreiros, Bretons, Mercenários da Intriga; e, finalmente, Malpestus, Cicatrizes Amaldiçoadas.

O Rei Brochvael havia feito uma grande festa de comemoração nos salões do castelo, mas subitamente todos foram pegos de surpresa pela tempestade de neve. Mas aquela não era uma tempestade comum, era uma nevasca e havia uma voz ecoando dentro dela. Como se algum feitiço tivesse sido rogado sobre nós.

Foi então nesse momento que aconteceu nossa migração forçada para o sul. A tempestade foi tão severa que transformou muitos dos que ficaram para trás em estátuas de gelo, e nossos campos foram convertidos em uma vastidão branca. Bastava olhar pra trás para ter os ossos do corpo congelados. Dizem que alguns ainda nascem pálidos e com o sangue azul porque seus antepassados foram os últimos a abandonar o Norte.

Como se isso não bastasse, homens trajados de ferro atravessaram o Lago Profundo e atracaram suas embarcações em nossa orla. Muitos bárbaros de nossa tribo tentaram expulsar os invasores, mas a medida que nossos inimigos eram derrotados, mais embarcações chegavam. Eles nos derrotaram pelo cansaço e pela pólvora negra de seus canhões. Hoje sabemos que suas táticas de guerra eram superiores a nossa fúria combativa.

E não demorou muito para que nossos altares fossem profanados. A nossa tradição foi perdida assim como os deuses de outrora. Uma nova religião nos foi imposta. Uma nova lei. Uma nova ordem.

Não somos escravos, mas também não temos liberdade. Somos serviçais e empregados em nossa própria casa. Os estrangeiros vieram e tomaram aquilo que era nosso. Por isso, o espírito do nosso povo está quebrantado. Até mesmo o atual Rei Unther Maegyr caiu em desgraça.

Desde então, os druidas se tornaram reclusos em seus bosques místicos e florestas silenciosas. E os feiticeiros começaram a nascer entre nosso povo, como sinal de nossa maldição.

Os bárbaros perderam a tradição guerreira, e muitos dos nossos filhos servem como soldados e vassalos de tiranos. Enquanto outros decidiram retomar o Norte a força por mera impulsividade e nunca mais retornaram.

Os patrulheiros tentaram alcançar os rastros deixados pelos nossos irmãos, mas por algum motivo não revelam seus segredos. Há meses que um ranger esteve em Nova Vildmark, nossa atual cidade e capital.

Porém, o inverno novamente começa. E os ventos parecem trazer alguma mensagem perigosa do Norte. Os poucos sábios que restaram sussurram palavras que nem mais compreendemos. Mas o pouco que se diz é suficiente. E parece haver esperança em nossa tragédia.

A lenda do avatar está tomando forma. Alguém dentre nós será escolhido pelos deuses antigos. Sua missão será reconquistar nossas terras a partir do Norte. Muitos já tentaram, mas ninguém retornou do Deserto Gélido de Ônabar. Mesmo com a descrença, resta acreditar que tudo isto é real.

Bispo Sansum da Cátedra Arcana